O bilhete de acesso à Europa contemporânea é o reconhecimento do Holocausto”, escreveu Tony Judt. O Holocausto e os horrores da Segunda Guerra Mundial são hoje os acontecimentos históricos fundadores da memória europeia. Um dos aspectos menos conhecidos deste conflito é, no entanto, a questão do trabalho forçado. A Alemanha nazi estabeleceu um sistema brutal de trabalho forçado, deportando milhões de civis estrangeiros dos países ocupados que, a par dos prisioneiros de guerra e prisioneiros de campos de concentração, foram utilizados como escravos. Este foi um fenómeno omnipresente em toda a Europa, mas amplamente ausente da memória europeia. Só mais recentemente é que a historiografia começou a estudar esta dimensão e a identificar e dar rosto a essas vítimas, bem como reconstruir as suas histórias de vida. Ainda mais esquecidas foram as vítimas espanholas e portuguesas do regime nazi.
Numa parceria entre instituições académicas e organizações da sociedade civil de 4 países- Portugal, Espanha, França e Alemanha -, o projecto FORCED pretende lançar luz sobre este passado europeu, promover uma reflexão alargada sobre as consequências dos regimes totalitários e manter viva a memória das suas vítimas. O principal público-alvo do projeto é a comunidade educativa, bem como a sociedade civil. A memória das vítimas portuguesas e espanholas que trabalharam para o Terceiro Reich será lembrada através de um site, que contém uma base de dados aberta sobre estes cidadãos, com informações sobre as histórias de vida, um conjunto de recursos educativos co-desenhados por professores e alunos para utilização em sala de aula, e disseminados através de acções de formação em Espanha e Portugal. A sociedade civil está envolvida por meio de uma exposição itinerante que pretende difundir o tema e promover um debate transnacional sobre o trabalho forçado e coercivo durante o nacional-socialismo e sobre a sua memória.